Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, 2 nos
quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe
da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência; 3 entre os quais também todos nós andamos outrora,
segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os
demais. 4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor
com que nos amou, 5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu
vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos, 6 e, juntamente com
ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em
Cristo Jesus; 7 para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza
da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. 8 Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9
não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele,
criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.
Um dos maiores livros já escritos sobre Deus, a saber, as Institutas
de João Calvino, começa com esta frase: "Quase todo o conhecimento que
possuímos, de que se possa dizer como verdadeiro e sólido conhecimento,
consiste de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós
mesmos." O que talvez precisemos relembrar em nossos dias não é que o
conhecimento de Deus é difícil de ser compreendido e abraçado — isso é
mais ou menos óbvio — mas que o conhecimento acerca de nós mesmos é
semelhantemente difícil de compreender e abraçar. Na verdade, pode ser
até mais difícil, primeiro porque um verdadeiro conhecimento de nós
mesmos presume um verdadeiro conhecimento de Deus, e, em segundo lugar,
porque tendemos a pensar que conhecemos a nós mesmos, quando, na verdade, a profundidade da nossa condição está além da nossa compreensão sem o auxílio de Deus.
Quem Pode Conhecer o Coração Humano?
O profeta Jeremias escreveu "Enganoso é o coração, mais do que todas as
coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9).
Davi disse no salmo 19:12 "Quem há que possa discernir as próprias
faltas? Absolve-me das que me são ocultas." Em outras palavras, nós
nunca conhecemos a profundidade da nossa pecaminosidade. Se o nosso
perdão dependesse da totalidade do conhecimento dos nossos pecados,
todos nós pereceríamos. Ninguém conhece a extensão de sua própria
pecaminosidade. Ela é mais profunda do que qualquer um conhece.
Porém a Bíblia não nos deixa sem auxílio para que nos conheçamos. O fato de que não podemos entender completamente o quão pecadores nós somos, não significa que não possamos conhecer profundamente
o quão pecadores nós somos. A Bíblia tem uma mensagem clara e
devastadora sobre o estado das nossas próprias almas. E a razão disto é
para que saibamos do que é que precisamos, e gritar de alegria quando
Deus nos dá.
Por que Nós Precisamos Nascer de Novo?
Estamos numa série de sermões sobre o novo nascimento. Nós ouvimos Jesus
dizer em João 3:7 "Necessário vos é nascer de novo." E em João 3:3
"Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." Em outras
palavras, ser nascido de novo é infinitamente importante. Céu e inferno
estão colocados na balança. Nós não veremos o reino de Deus a não ser
que tenhamos nascido de novo. Então, a questão hoje é Por que?
Por que isto é tão necessário? Por que não há alguma outra coisa que
seja suficiente, como um recomeço, ou um aperfeiçoamento moral, ou o
auto-discipulado? Por que esta coisa radical, espiritual, sobrenatural
chamada novo nascimento ou regeneração? Esta é a questão que tentaremos
responder hoje e na próxima semana.
Diagnóstico: Nós Estamos Mortos?
O texto por onde iniciamos é Efésios 2. Por duas vezes, nos versos 1 e
5, Paulo diz que estamos mortos em nossas transgressões. Verso 1: "estando vós mortos
nos vossos delitos e pecados. . ." Versos 4-5: "Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos
em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça
sois salvos." Então, por duas vezes Paulo nos descreve como "mortos".
Solução: "Deus Nos Deu Vida"
E a solução para isso no versículo 5 é: "Deus nos deu vida." Você nunca
experimentará a totalidade da grandeza do amor de Deus por você, se não
enxergar o amor dele em relação ao seu estado de anterior de morte. Pois
o verso 4 diz que a grandeza do seu amor é demonstrada exatamente
nisso: que ele nos dá vida estando nós mortos. "Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com
Cristo." Por causa do seu grande amor por nós, ele nos deu vida. Se você
não sabe que estava morto, você não conhecerá a totalidade do amor de
Deus.
Eu considero este milagre, "ele nos deu vida", como sendo virtualmente o
mesmo que Jesus chama de novo nascimento. Antes nós não tínhamos vida
espiritual, e então Deus nos levantou daquele estado de morte
espiritual. E agora estamos vivos. Isto é o mesmo que Jesus dizer que
necessitamos nascer do Espírito (João 3:5) e "o Espírito é o que
vivifica" (João 6:63).
O Amor da Nova Aliança
Assim, podemos dizer, então, que a obra da regeneração, a obra do novo
nascimento, a obra de ser vivificado, flui da riqueza da misericórdia de
Deus e da grandeza do seu amor. "Mas Deus, (1) sendo rico em misericórdia, (2) por causa do grande amor com que nos amou,
e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com
Cristo." Este é o amor da nova aliança. Este é o tipo de amor que Deus
tem para sua noiva. Ele a encontra morta (Ezequiel 16:4-8), e ele dá o
seu Filho para morrer por ela, e então ele lhe dá vida. E ele a mantém
para sempre. "Eu lhes dou a vida eterna", disse Jesus, "jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:28).
Por que o Novo Nascimento é Necessário?
Então a questão é: o que isso significa? Esta morte? Há pelo menos dez
respostas no Novo Testamento. Se as considerarmos de forma honesta e em
oração, elas nos humilharão profundamente e nos levarão a estar
maravilhados com o dom do novo nascimento. Então o que eu quero fazer é
falar sobre sete delas hoje e três delas na próxima vez, junto com a
pergunta maior: Será que realmente precisamos ser mudados? Não podemos
apenas ser perdoados e justificados? Isso não iria nos levar para o céu?
Mas guardaremos estas para logo mais.
Aqui estão sete das explicações bíblicas sobre a nossa condição sem o novo nascimento e porque ele é tão necessário.
I - Sem o novo nascimento, nós estamos mortos em delitos e pecados (Efésios 2.1-2)
A morte implica em estar sem vida. Não é sem vida física ou moral.
Versículo 1: "Nós estamos "caminhando" e "seguindo" o mundo. Versículo
2: Nós temos "paixões" da carne, e nós carregamos "desejos do corpo e da
mente." Então não estamos mortos no sentido em que não podemos pecar.
Estamos mortos no sentido em que não podemos ver ou sentir a glória de
Cristo. Nós estamos espiritualmente mortos. Nós estamos indiferentes a
Deus e Cristo e sua palavra. Considere como isso se desdobra em nove
outras descrições da nossa condição antes do novo nascimento acontecer.
II - Sem o novo nascimento, nós somos, por natureza, filhos da ira (Efésios 2.3)
Versículo 3: "Éramos, por natureza, filhos da ira, como também
os demais." O ponto disto é deixar claro que o nosso problema não está
somente no que fazemos, mas no que nós somos. À parte do novo
nascimento, eu sou o meu problema. Você não é o meu maior
problema. Meus pais não são meus maiores problemas. Meus inimigos não
são meus maiores problemas. Eu sou o meu maior problema. Não são minhas
ações, nem minhas circunstâncias, nem as pessoas da minha vida, mas minha natureza é o meu mais profundo problema pessoal.
Eu não tive primeiro uma boa natureza e, em seguida, fiz coisas ruins e
passei a ter uma natureza má. "Eu nasci na iniquidade, e em pecado me
concebeu minha mãe" (Salmo 51:5). Este é quem eu sou. Minha natureza é
egoísta, egocêntrica, exigente e muito hábil em fazer você se sentir
como se fosse o problema. E se a sua primeira resposta a essa afirmação é
conheço pessoas assim</ em>, você pode estar totalmente cego para o engano do seu próprio coração.
Paulo descreve a nossa natureza antes do novo nascimento como "filhos da
ira." Em outras palavras, a ira de Deus é para nós como um pai em
relação a seu filho. Nossa natureza é tão rebelde, tão egoísta e tão
insensível à majestade de Deus, que sua ira santa é uma resposta natural
e correta para nós.
III - Sem o novo nascimento, nós amamos as trevas e odiamos a luz (João 3.19-20)
O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras. (João 3:19-20)
Esta palavra de Jesus enuncia algumas das coisas que a nossa natureza é
sem o novo nascimento. Nós não somos neutros quando nos aproximamos da
luz espiritual. Nós a resistimos. E nós não somos neutros quando as
trevas espirituais nos envolvem. Nós a abraçamos. Amor e ódio estão
ativos no coração não regenerado. E eles se movem em direções exatamente
opostas — odiando o que deveria ser amado e amando o que deveria ser
odiado.
IV - Sem o novo nascimento, nossos corações são duros como pedra (Ezequiel 36.26; Efésios 4.18)
Nós vimos isso na semana passada, em Ezequiel 36:26, onde Deus diz:
"Tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne." Aqui
em Efésios 4:18, Paulo rastreia nossa condição desde a escuridão à
alienação, até a ignorância à dureza de coração. "Obscurecidos de
entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que
vivem, pela dureza do seu coração." O ponto crucial do nosso problema
não é a ignorância. Há algo mais profundo: "por causa da ignorância em
que vivem, pela dureza do seu coração." Nossa ignorância é a
ignorância culpada, não a ignorância inocente. Ela está enraizada nos
corações duros e resistentes. Paulo diz em Romanos 1:18 que nós detemos a verdade pela injustiça. A ignorância não é nosso maior problema. Antes, são a dureza e a resistência.
V - Sem o novo nascimento, nós somos incapazes de nos submeter a Deus ou de agradar a Deus ( Romanos 8.7-8)
Em Romanos 8:7 Paulo diz: "O pendor da carne [literalmente: a mente da
carne] é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem
agradar a Deus." Nós podemos deduzir pelo próximo versículo o que Paulo
quer dizer com "o pendor da carne" e "estar na carne." Ele diz no verso
9: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o
Espírito de Deus habita em vós." Em outras palavras, ele está
contrastando aqueles que são nascidos de novo e tem o Espírito, com
aqueles que não são nascidos de novo e, portanto, não tem o Espírito,
mas tem somente a carne. "O que é nascido da carne é carne; e o que é
nascido do Espírito é espírito." (João 3:6).
Seu ponto é que sem o Espírito Santo, nossas mentes são tão resistentes à
autoridade de Deus, que nós não iremos, e, portanto, não poderemos nos
submeter a ele. "O pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não
está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar." E se não podemos nos
submeter a ele, não podemos agradá-lo. "Os que estão na carne não podem
agradar a Deus." Isso é o quão mortos, e em trevas, e o quão duros nós
somos para com Deus, até que Deus nos faça nascer de novo.
VI - Sem o novo nascimento, somos incapazes de aceitar o Evangelho (Efésios 4.18; 1 Coríntios 2.14)
Em 1 Coríntios 2:14, Paulo nos dá outro vislumbre das implicações que
esta indiferença e dureza trazem sobre aquilo que somos incapazes de
fazer. Ele diz: "O homem natural [ou seja, o não regenerado por
natureza] não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente." O problema não é que as coisas de Deus estejam além
das suas capacidades intelectuais. O problema é que ele as enxerga como
tolice. "Não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura." Na verdade, elas são tão loucas para ele, que ele não pode compreendê-las.
Lembre-se de que este é um "não pode" moral, e não um "não pode" físico. Quando Paulo diz "O homem natural. . . não pode
entendê-las", ele quer dizer que o coração é tão resistente a
recebê-las que a mente justifica a rebelião do coração vendo-as, então,
como loucura. Esta rebeldia é tão abrangente que o coração realmente não pode receber as coisas do Espírito. Isto é uma verdadeira incapacidade. Mas não é uma incapacidade coagida. A pessoa não regenerada não pode porque ela não quer.
Suas preferências pelo pecado são tão fortes que ela não consegue
escolher o bem. É uma verdadeira e terrível escravidão. Mas não é uma
escravidão inocente.
VII - Sem o novo nascimento, nós somos incapazes de vir a Cristo ou recebê-lo como Senhor (João 6.44, 65; 1 Coríntios 12.3)
Em 1 Coríntios 12:3, Paulo declara: "ninguém pode dizer que Jesus é o
SENHOR, senão pelo Espírito Santo." Ele não quer dizer que um ator num
palco ou um hipócrita em uma igreja não possam dizer as palavras "Jesus é
o Senhor" sem o Espírito Santo. Ele quer dizer que ninguém pode dizê-lo
verdadeiramente sem nascer do Espírito. É moralmente impossível para o
coração morto, em trevas, duro e resistente celebrar o senhorio de Jesus
sobre a sua vida sem ser nascido de novo.
Ou, como Jesus diz três vezes em João 6, ninguém pode vir a ele, a menos
que o Pai o traga. E quando essa proximidade produz numa pessoa uma
ligação viva com Jesus, nós a chamamos de novo nascimento. Versículo 37:
"Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim." Versículo 44: "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer. Versículo 65: "Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido." Todas essas maravilhosas obras de trazer, conceder e dar
são as obras de Deus na regeneração. Sem elas nós não vamos a Cristo,
porque nós não queremos ir. Isso é o que tem que ser mudado no novo
nascimento.
Uma Resposta Pessoal e Urgente
Há mais a ser dito sobre o porquê do novo nascimento ser necessário, mas
isso é o suficiente por hoje. Concluímos voltando às palavras
surpreendentemente cheias de esperança de Efésios 2:4-5: "Mas Deus,
sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com
Cristo, —pela graça sois salvos."
Há duas formas de responder a isto: uma é teórica e impessoal; a outra é
pessoal e urgente. Uma diz: como pode ser isso, e como pode ser aquilo?
A outra diz: Deus me trouxe aqui hoje. Deus falou nestes textos para
mim hoje. A misericórdia de Deus, seu amor e sua graça me parecem
desesperadamente necessários e belos para mim hoje. Ó Deus, hoje eu me
submeto à sua sublime graça que me trouxe aqui e me despertou, e me
abrandou, e me abriu. Graças a Deus pelas riquezas da sua misericórdia,
pela grandeza do seu amor, e pelo do poder de sua graça.
Anterior > PróximoPor John Piper. © Desiring God. Site em inglês: desiringGod.org | Português: satisfacaoemDeus.org |
Fonte: DesiringGod Divulgação: Massoreticos
Nenhum comentário:
Postar um comentário