O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com
os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos
apalparam, com respeito ao Verbo da vida 2 (e a vida se manifestou, e
nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida
eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), 3 o que temos
visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente,
mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com
seu Filho, Jesus Cristo. 4 Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a
nossa alegria seja completa. 5 Ora, a mensagem que, da parte dele,
temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele
treva nenhuma. 6 Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos
nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7 Se, porém, andarmos
na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. 8 Se dissermos
que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade
não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. 10
Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a
sua palavra não está em nós.
No artigo anterior começamos a responder a questão Por que precisamos nascer de novo?
iniciando em Efésios 2:4-5. "Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por
causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos
delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos."
Eu disse que "Deus nos deu vida" é virtualmente a mesma coisa que novo
nascimento. E a razão apresentada para necessitarmos disto é que nós
estávamos mortos. "Estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida." É
disto que necessitamos — o milagre da vida espiritual criada em nossos
corações. E a razão pela qual necessitamos dela é porque estamos mortos
espiritualmente — ou seja, nós somos incapazes de ver, sentir ou
entender a beleza e o valor de Cristo por quem ele verdadeiramente é.
Aqueles que não são regenerados não dizem juntamente com Paulo:
"considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de
Cristo Jesus, meu Senhor."
Então, começamos a detalhar esta condição em que estamos, por assim
dizer, mortos. Eu disse que mencionaria dez formas de descrever esta
condição segundo o Novo Testamento. Na semana passada, mencionamos
estas:
- Nós estamos mortos em delitos e pecados (Efésios 2:5).
- Nós somos, por natureza, filhos da ira (Efésios 2:3).
- Nós amamos as trevas e detestamos a luz (João 3:19-20).
- Nossos corações são duros como pedra (Ezequiel 36:26; Efésios 4:18).
- Nós somos incapazes de nos sujeitarmos ou agradarmos a Deus (Romanos 8:7-8).
- Nós somos incapazes de aceitar o evangelho (Efésios 4:18; 1 Coríntios 2:14).
- Nós somos incapazes de vir a Cristo ou reconhecê-lo como Senhor (João 6:44, 65; 1 Coríntios 12:3).
Nossa Condição Sem o Novo Nascimento
Nos voltamos agora para as três últimas descrições da nossa condição sem o novo nascimento.
VIII - Sem o novo nascimento, somos escravos do pecado (Romanos 6.17)
Paulo celebra nossa libertação da escravidão do pecado agradecendo a Deus por isso. Ele diz em Romanos 6:17, "Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado,
contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes
entregues." Nós estávamos, outrora, tão apaixonados pelo pecado, que
não poderíamos deixá-lo nem matá-lo. E então algo aconteceu. O novo
nascimento ocorreu. Deus originou em nós uma nova vida espiritual, uma
nova natureza que odeia o pecado e ama a justiça. E assim, Paulo
agradece a Deus, e não a homem algum, por esta grande libertação: "graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado,
contudo, viestes a obedecer de coração." Até que Deus nos desperte da
morte espiritual e nos dê a vida que encontra alegria em acabar com o
pecado e na santificação, nós somos escravos e não conseguimos nos
libertar. É por este motivo que o novo nascimento é necessário.
IX - Sem o novo nascimento, nós somos escravos de satanás (Efésios 2.1-2; 2 Timóteo 2.24-26)
Isto é uma das coisas terríveis acerca da nossa morte espiritual. Nossa
morte não é indiferente ao diabo. Ela está em perfeita sintonia com o
diabo. Veja a forma como Paulo descreve o nosso estado de morte em
Efésios 2:1-2: "Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar,
do espírito que agora atua nos filhos da desobediência." Em outras
palavras, a marca de uma pessoa não regenerada é que seus desejos e
escolhas estão "de acordo" com o príncipe da potestade do ar. Um não
regenerado pode até zombar da própria ideia da existência do diabo. E,
obviamente, nada está mais alinhado com o pai da mentira do que a
negação de que ele existe.
Mas a escravidão ao diabo é mais claramente mencionada em 2 Timóteo
2:24-26. Eis uma exortação a ministros sobre como libertar pessoas da
escravidão do diabo: "Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a
contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir,
paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de
que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente
a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.
Quando Paulo fala sobre "a expectativa de que Deus lhes conceda não só o
arrependimento para conhecerem plenamente a verdade", isto é o que
virtualmente acontece no novo nascimento. E aqui está a chave para a
libertação das pessoas do diabo. Deus concede arrependimento — ou seja,
ele desperta a vida que enxerga a feiura e o perigo do pecado, e que vê a
beleza e o valor de Cristo, e esta verdade liberta o cativo. É o que
acontece a uma pessoa no escuro acariciando um pingente pendurado em seu
pescoço, e então, as luzes espirituais se acendem e ela vê que aquilo
não é um pingente, mas uma barata, que ela afugenta para longe. É desta
forma que as pessoas são libertas do diabo. E até que Deus opere aquele
milagre do novo nascimento, nós permanecemos amarrados ao pai da mentira
porque amamos ser capazes de dizer a nós mesmos qualquer coisa que nos
agrade.
X - Sem o novo nascimento, nenhum bem habita em mim (Romanos 7.18)
Esta é uma declaração ininteligível para um não regenerado que sabe
muito bem que pratica muitas coisas boas e que poderia fazer muito mais
coisas más do que, de fato, faz. Esta declaração não faz sentido algum —
que não há nenhum bem em nós antes do novo nascimento — sem a convicção
de que tudo de bom que Deus criou e mantém, é arruinado quando não é
praticado na confiança da graça de Deus, buscando a glória de Deus.
Portanto, é claro, em um sentido a pessoa humana (a alma, a mente, o
coração, o cérebro, o olho, a mão) e as estruturas sociais humanas
(casamento, família, governos, negócios) são todos bons. Deus os criou,
os ordenou e os sustenta. É correto que eles existam.
Mas eles todos existem para a glória de Deus. Deus ordena que o amemos
com todo o nosso coração e alma e entendimento (Mateus 22:37). Ele
ordena que usemos tudo o que ele fez confiando em sua graça, e de forma a
mostrar o seu valor (1 Pedro 4:11). Onde quer que as pessoas usem tudo
o que Deus criou sem apoiar-se em sua graça e sem o objetivo de mostrar
o seu valor, elas prostituem a criação de Deus. Elas a tornam um
instrumento de incredulidade. E elas a arruinam.
Então, quando Paulo diz em Romanos 7:18, "eu sei que em mim, isto é, na
minha carne, não habita bem nenhum", esta é a razão pela qual ele
acrescenta este qualificador "isto é, na minha carne." Existe
algo bom em Paulo após o novo nascimento. A fé é boa. O Espírito Santo é
bom. A nova natureza espiritual é boa. Cultivar a santidade é bom. Mas
em sua carne, isto é, a pessoa que ele é por natureza à parte
do novo nascimento, não há nenhum bem. Tudo o que de bom foi criado
arruinou-se por ter sido feito servo dos assuntos voltados para o homem,
não dos voltados para Deus.
Esta é nossa dezena de condições à parte do novo nascimento. Alheios à
regeneração, nós estamos, para usar as palavras de Paulo em Efésios
2:12, "sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às
alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo." É por
este motivo que precisamos nascer de novo. Sem o novo nascimento, nossa
condição é irrecuperável, e nós não podemos consertá-la através de um
aperfeiçoamento moral. Um morto não melhora em nada. Um morto precisa de
uma coisa antes que algo mais possa acontecer: ele precisa ser
revivido. Ele precisa nascer de novo.
A Outra Metade da Questão
Até agora estive tratando apenas de metade da questão por quê. Por que o novo nascimento é necessário?
na verdade tem dois significados. Eis aquele que estivemos respondendo:
Por que não tenho vida espiritual e por que não posso consegui-la
sozinho? A isto, respondemos que somos rebeldes, egoístas, exigentes,
duros e resistentes às coisas espirituais, e incapazes de ver a beleza e
o valor de Cristo, e portanto, incapazes de vir a ele para receber
vida. E por isto necessitamos de uma obra sobrenatural de Deus para nos
tornar vivos. Nós precisamos nascer de novo. Esta é a primeira forma de
perguntar Por que o novo nascimento é necessário?
Mas há uma outra forma. A questão também quer dizer: Para que
você precisa do novo nascimento? O que ele produz que você tanto
necessita? O que você não consegue ter sem ele? A primeira forma de
fazer esta pergunta olha para trás e questiona qual é a nossa condição
que faz com que o novo nascimento seja necessário. Já a segunda forma
olha para frente e pergunta o que precisa acontecer que somente o novo
nascimento é capaz de produzir? É para isto que nos voltamos agora.
O Que Nós Não teremos Sem o Novo Nascimento?
Por que precisamos de uma nova vida espiritual por meio de uma ligação
com Jesus? Uma resposta: porque estamos mortos. A outra resposta: porque
sem esta vida nós não. . . não o quê? Esta é a questão agora. O que é
que não teremos sem esta vida?
Tentarei responder a isto de forma resumida hoje, e então trabalhar de
forma mais prática e detalhada na próxima semana. Semana que vem será o
Domingo anterior ao Natal, e tenho em mente usar como texto 1 João 3:8b:
"Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do
diabo." Ou seja, a razão para a encarnação — para o Natal — é a
destruição das obras do diabo. Vocês verão a ligação naquele contexto
entre a encarnação e a regeneração, ou entre o nosso novo nascimento e o
nascimento de Jesus.
O Reino dos Céus
Mas permita-me dar uma resposta sucinta hoje: O que nós não teremos sem o
novo nascimento? A resposta de Jesus foi simples, completa e
devastadora: "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer
de novo, não pode ver o reino de Deus."
Sem o novo nascimento, nós não veremos o reino de Deus. Ou seja, nós não iremos para o céu. Pereceremos eternamente. O que nós não teremos sem o novo nascimento? Não teremos nada de bom. Teremos apenas sofrimento eterno.
Sem o novo nascimento, nós não veremos o reino de Deus. Ou seja, nós não iremos para o céu. Pereceremos eternamente. O que nós não teremos sem o novo nascimento? Não teremos nada de bom. Teremos apenas sofrimento eterno.
Mas é importante que mostremos o que é isso. Precisamos detalhar a forma
como Deus nos salva através do novo nascimento — a forma como ele nos
conduz ao reino. Precisamos ver a ligação entre o novo nascimento e
aquilo que Deus fez para nos salvar através da morte e ressurreição de
Jesus. Assim, darei cinco respostas inter-relacionadas à questão,
primeiramente de forma negativa, e então, para encerrar, de forma
positiva. O que não teremos sem o novo nascimento? Aqui está, de forma
resumida:
- Sem o novo nascimento, não teremos fé salvadora, mas apenas incredulidade (João 1:11-13; 1 João 5:1; Efésios 2:8-9; Filipenses 1:29; 1 Timóteo 1:14; 2 Timóteo 1:3).
- Sem o novo nascimento, não teremos justificação, mas apenas condenação (Romanos 8:1; 2 Coríntios 5:21; Gálatas 2:17; Filipenses 3:9).
- Sem o novo nascimento, não seremos filhos de Deus, mas filhos do diabo (1 João 3:9-10).
- Sem o novo nascimento, nós não produziremos os frutos do amor pelo Espírito Santo, mas apenas os frutos da morte (Romanos 6:20-21; 7:4-6; 15:16; 1 Coríntios 1:2; 2 Coríntios 5:17; Efésios 2:10; Gálatas 5:6; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 Pedro 1:2; 1 João 3:14).
- Sem o novo nascimento não teremos alegria eterna em comunhão com Deus, mas apenas tormento eterno com o diabo e seus anjos (Mateus 25:41; João 3:3; Romanos 6:23; Apocalipse 2:11; 20:15).
Para que possamos nos conhecer e conhecer a grandeza de Cristo e da
nossa salvação, precisamos saber como o novo nascimento se relaciona com
estas cinco coisas. É sobre isto que trataremos da próxima vez. Mas
permita-me concluir repetindo estes pontos, mas desta vez de forma
positiva e com a palavra de Deus.
- Quando Deus opera o novo nascimento em nós, a fé salvadora é despertada e somos unidos a Cristo. 1 João 5:1: "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus." Não diz "será" nascido de Deus, mas "é" nascido de Deus. Nossa primeira fé é o sinal de vida do novo nascimento.
- Quando novo nascimento desperta a fé, e nos une a Cristo, nós somos justificados — isto é, considerados como justos — através da fé. Romanos 5:1: "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo." O novo nascimento desperta a fé, e esta fé olha para Cristo por justiça, e Deus credita esta justiça a nós somente por causa de Cristo e somente mediante a fé.
- Quando o novo nascimento desperta a fé e nos une a Cristo, todos os obstáculos legais para nossa aceitação junto a Deus são removidos através da justificação. E então, Deus nos adota em sua família e nos conforma à imagem de seu Filho. João 1:12: "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." Nós somos regenerados por Deus, não pela vontade do homem, e nós cremos em Cristo e o recebemos, e Deus nos tornou em seus herdeiros legítimos e em filhos espirituais.
- Quando o novo nascimento desperta a fé e somos unidos a Cristo, e toda condenação é substituída por justificação e o Espírito da adoção adentra em nossa alma, ele produz o fruto do amor. Gálatas 5:6: "Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor." 1 João 3:14: "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos." Onde há o novo nascimento, há amor.
- Por fim, quando o novo nascimento desperta a fé e nos une a Cristo, que é nossa justiça, e libera o poder santificador do Espírito Santo, estamos no caminho estreito que leva ao céu. E o ponto alto da alegria celestial será a comunhão com Deus. "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). O auge da alegria da nossa nova vida é o próprio Deus.
"Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não
pode ver o reino de Deus. . . . Não te admires de eu te dizer:
importa-vos nascer de novo." (João 3:3 e 7).
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Fonte: Satisfação em Deus Divulgação: Massoreticos
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Por John Piper. © Desiring God. Site em inglês: desiringGod.org | Português: satisfacaoemDeus.org |
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