Por Karl Heinz Kienitz
Neo ateísmo, ou novo ateísmo, é uma corrente
ateísta e ceticista contemporânea cujos aderentes compartilham do
entendimento de que religião não deve ser tolerada, mas combatida,
criticada e exposta através de argumentação racional, sempre que sua
influência se mostrar.
Acusações contra cristãos
tem sido repetidas ad nauseam por autores neo ateus, frequentemente em
formulações virulentas. Pergunto-me se tais autores sabem que nos
primeiros dois séculos, cristãos eram acusados de ateus, e perseguidos
por isso. Relatos de martírios daquela época descrevem o público nas
arenas gritando “fora com os ateus” enquanto cristãos eram trucidados de
forma bestial. Atenágoras, filósofo cristão do século II, foi um dos
que dedicou parte dos seus escritos a defender os cristãos da acusação
de ateísmo.
O que Atenágoras tentou explicar aos
pagãos de outrora hoje parece óbvio aos neo pagãos, digo neo ateus:
cristãos não são ateus. De lá para cá as acusações contra os cristãos
mudaram; a insensatez dos acusadores permaneceu a mesma. Explico.
Uma
das acusações neo ateístas é a de que fé cristã seria obscurantista.
Assim como aquela que ocupou Atenágoras, a acusação de obscurantismo
também resulta de falta de informação. Biografias de muitos grandes
cientistas – desde os primórdios da ciência até a atualidade –
desautorizam a acusação. Falo de biografias de cristãos como Kepler,
Pascal, Joule, Pasteur, Mendel, Faraday, Maxwell, Planck para citar uns
poucos. Infelizmente a falta de informação dos acusadores não se limita à
ausência (ou supressão) de conhecimento pertinente de história da
ciência; estende-se também à ausência (ou supressão) de conhecimento em
história da música. Pois a cultura musical ocidental existe graças a
realizações monumentais e norteadoras de gênios como Bach, Händel,
Haydn, Mendelssohn, Bruckner e Messiaen, todos eles motivados e movidos
por sua fé cristã. E mesmo compositores de posição ambígua em relação à
Bíblia muitas vezes produziram obras de destaque inspiradas em temáticas
judaico cristãs, como Gustav Mahler com sua Sinfonia da Ressurreição
composta no final do século XIX, ou Britten com seu War Requiem composto
em meados do século XX.
Outra acusação neo
ateísta comum é a de que fé cristã resulta numa educação inadequada das
crianças. Richard Dawkins, autor neo ateu especialmente sórdido, chega a
comparar ao abuso infantil a educação que pais cristãos dão a seus
filhos. Há algumas décadas, na União Soviética e em outros lugares,
posições como a de Dawkins foram levadas às últimas consequências. Em
casos a perder de vista, filhos de cristãos foram impedidos de receber
uma educação cristã e lhes impingiram uma educação segundo a ideologia
do estado, o ateísmo. Os resultados obtidos indicam que o ateísmo
generalizado e seus alegados méritos educacionais não cooperam para o
sucesso e bem estar de uma sociedade.
A educação
cristã, por outro lado, aquela abominada por Dawkins, consolidou-se ao
longo de séculos de pioneirismo. Isto não significa que educação cristã
não possa melhorar. Significa que a concepção norteadora continuará
sendo a mesma sólida concepção de Comenius, o pioneiro da educação
moderna; de Robert Raikes, criador da escola dominical; de Dom Bosco,
criador do sistema preventivo; e de tantos outros grandes pioneiros
cujos bons frutos permanecem.
Uma terceira
acusação lançada por neo ateus aos cristãos, é a de que fé cristã leva a
violência e guerras. Há pelo menos dois problemas sérios com tal
acusação. Em primeiro lugar, os acusadores parecem desconhecer os Amish,
Menonitas, Quakers e demais cristãos que, exclusivamente com base em
sua fé cristã, defendem posições categóricas de não violência. Em
segundo lugar, os acusadores decidiram esquecer que as maiores tragédias
e atrocidades da história da humanidade foram cometidas por ateus
convictos (Stalin, Dzerzhinsky, Hoxha, Ceausescu, Pol Pot, etc.) Isso
não exime cristãos da apurar a influência que a fé cristã teve (ou não
teve) em capítulos violentos da história. Devem fazê-lo, e a boa notícia
é que esse tipo de confrontação tem acontecido. A qualidade do processo
é evidenciado, entre outros, pelo clima de entendimento e fraternidade
nos diálogos católico-luterano, luterano-menonita e católico-menonita.
Aos neo ateus fica a possibilidade concreta de seguir o exemplo dos
cristãos e tratar com as partes envolvidas os capítulos negros da
história do ateísmo. “Como é que você pode dizer ao seu irmão: 'Irmão,
deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando você não vê a trave no seu
próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu próprio olho, e
então você enxergará bem, para tirar o cisco do olho do seu irmão.” Esse
ensinamento de Jesus de Nazaré aos que o seguiam não perdeu atualidade;
e parece pertinente a todos.
Fonte: Ultimato Divulgação: Massoreticos
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