28 de maio de 2013

A Palavra de Deus

Quais as diferentes formas da Palavra de Deus?


Explicação e Base Bíblica

Que significa a frase “a Palavra de Deus”? Na verdade, há vários significados que essa frase assume na Bíblia. Vale a pena distinguir claramente esses diferentes sentidos no começo deste estudo.

A. “A PALAVRA DE DEUS” COMO PESSOA: JESUS CRISTO

Às vezes a Bíblia refere-se ao filho de Deus como “a Palavra de Deus”. Em Apocalipse 19.13, João vê o Senhor Jesus ressurreto no céu e diz: “Está vestido com um manto tingido de sangue, e o seu nome é a Palavra de Deus” (NVI). De modo semelhante, no começo do Evangelho de João lemos: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (Jo 1.1, NVI). É claro que João está falando aqui do Filho de Deus, porque no versículo 14 diz: “A Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos, a sua glória, a glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (NVI). Esses versículos (e talvez 1Jo 1.1) são os únicos casos em que a Bíblia se refere ao Deus Filho como “a Palavra de Deus”; portanto, esse uso não é comum. Indica, porém, que entre os membros da Trindade é especialmente o Deus Filho quem, em sua pessoa e em suas palavras, tem o papel de comunicar o caráter de Deus e de expressar a vontade de Deus para nós.



B. “A PALAVRA DE DEUS” COMO COMUNICAÇÃO VERBAL DE DEUS

1. Os decretos de Deus. Às vezes as palavras de Deus tomam a forma de decretos poderosos que causam eventos ou até mesmo trazem coisas à existência. “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Deus criou ainda o mundo animal proferindo sua poderosa palavra: “Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez” (Gn 1.24). Por isso o salmista pode dizer: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles” (Sl 33.6)


Essa palavras poderosas e criadoras de Deus são frequentemente chamadas decretos de Deus. Decreto de Deus é uma palavra divina que faz algo acontecer. Esses decretos de Deus incluem não só os eventos da criação original como também a existência contínua de todas as coisas, pois Hebreus 1.3 no diz que Cristo está o tempo todo “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”.


2. Palavra de Deus de aplicação pessoal. Deus às vezes se comunica com pessoas sobre a terra falando diretamente a elas. Esses casos são exemplos de Palavras de Deus de aplicação pessoal e encontram-se através das Escrituras. Bem no início da criação, Deus diz a Adão: “E o Senhor Deus lhe deu essa ordem: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17). Após o pecado de Adão e Eva, Deus ainda vem e fala direta e pessoalmente e eles nas palavras de maldição (Gn 3.16-19). Outro exemplo proeminente de fala direta pessoal de Deus às pessoas sobre a terra encontra-se na concessão dos Dez Mandamentos: “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o Senhor , teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim...” (Êx 20.1-3). No Novo Testamento, por ocasião do batismo de Jesus, o Deus Pai falou com uma voz que veio dos céus, dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17).


Nesses e em vários outros casos em que Deus proferiu palavras de aplicação pessoal especialmente a indivíduos, estava claro para os ouvintes que aquelas eram realmente palavras de Deus: eles estavam ouvindo a voz do próprio Deus e, portanto, ouvindo palavras que tinham autoridade divina absoluta e eram absolutamente fidedignas. Não crer em qualquer uma dessas palavras ou desobedecer a elas significa não crer em Deus ou desobedecer a ele e, portanto, cometer pecado.


Embora as palavras de Deus de aplicação pessoal sejam sempre vistas nas Escrituras como palavras reais de Deus, são também palavras “humanas” no sentido de serem proferidas em linguagem humana comum que pode ser compreendida imediatamente. O fato de essas palavras serem expressas em linguagem humana não limita de modo nenhum seu caráter divino nem sua autoridade: são inteiramente palavras de Deus, proferidas pela voz do próprio Deus.

Não dar crédito ou desobedecer a alguma parte delas significa não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus.


3. Palavras de Deus comunicadas por lábios humanos. Com frequência nas Escrituras Deus levanta profetas para falar por meio deles. De novo, é evidente que embora sejam palavras humanas, faladas em linguagem humana comum por seres humanos comuns, sua autoridade e veracidade não sofrem nenhuma redução; ainda são inteiramente palavras de Deus. 


Em Deuteronômio 18, Deus diz a Moisés:

Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto (Dt 18.18-20).


Deus fez uma declaração semelhante a Jeremias: “Depois, estendeu o Senhor a mão, tocou-me na boca e o Senhor me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1.9). Deus diz a Jeremias: “...tudo quanto eu te mandar falarás” (Jr 1.7; veja também Êx 4.12; Nm 22.38; 1Sm 15.3, 18, 23; 1Rs 20.36; 2Cr 20.20; 25.15-16; Is 30.12-14; Jr 6.10-12; 36.29-31; et al.) Qualquer pessoa que alegasse estar falando pelo Senhor, mas que não tivesse recebido em mensagem da parte dele era severamente punida (Ez 13.1-17; Dt 18.20-22).


Assim, as palavras de Deus comunicadas por lábios humanos eram consideradas tão autorizadas e verdadeiras como as palavras de Deus de aplicação pessoal. Não havia nenhuma redução de autoridade dessas palavras quando expressas por lábios humanos. Não dar crédito ou desobedecer a qualquer uma delas significava não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus.


4. Palavras de Deus em forma escrita (a Bíblia). Além das palavras de Deus em forma de decreto, das palavras de Deus de aplicação pessoal e das palavras de Deus comunicadas por lábios humanos, também encontramos nas Escrituras várias situações em que as palavras de Deus são colocadas em forma escrita. O primeiro exemplo se encontra no relato sobre a dádiva das duas tábuas de pedra em que foram escritos os Dez Mandamentos: “E, tendo acabado de falar com ele no monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êx 32.16; 34.1,28).


Além disso, Moisés também escreveu:

Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da Aliança do Senhor, e a todos os anciãos de Israel. Ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos, [...] lerás esta lei diante de todo o Israel [...] para que ouçam, e aprendam, e temam o Senhor, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei; para que seus filhos que não a souberam ouçam e aprendam a temer o Senhor, vosso Deus...(Dt 31.9-13).
Esse livro que Moisés escreveu foi então depositado ao lado da arca da aliança: “Tendo Moisés acabado de escrever, integralmente, as palavras desta lei num livro, deu ordem aos levitas que levavam a arca da Aliança do Senhor, dizendo: Tomai este livro da lei e ponde-o ao lado da arca da Aliança do Senhor, vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti” (Dt 31.24-26).


Mais uma vez deve-se observar que essas palavras ainda são consideradas palavras do próprio Deus, mesmo que sejam escritas em maior parte por seres humanos e sempre em linguagem humana. Além disso, são absolutamente autorizadas e absolutamente verdadeiras; desobedecer a elas ou não crer nelas é um sério pecado e atrai julgamento de Deus (1Co14.37; Jr 36.29-31).


Várias vantagens advêm das palavras de Deus em forma escrita. Em primeiro lugar, há a preservação muito mais precisa das palavras de Deus para gerações seguintes. Em segundo lugar, a oportunidade para exame repetido das palavras escritas permite estudo cuidadoso e discussão, que levam a melhor entendimento e obediência mais completa. Em terceiro lugar, as palavras de Deus em forma escrita são acessíveis a muito mais pessoas do que quando preservadas meramente por meio da memória e da repetição oral. Dessa forma, a confiabilidade, a eficácia e a acessibilidade da forma em que as palavras de Deus são preservadas acentuam-se grandemente quando elas são escritas. Apesar disso, não há nenhum indício de redução de sua autoridade ou veracidade.



De todas as formas que nós vimos sobre “A Palavra de Deus” é a Palavra Escrita de Deus (Bíblia) que ele (Deus) nos ordena a estudar. O homem “bem-aventurado” é o que “medita” na lei de Deus “de dia e de noite” (Sl 1.1-2). As palavras de Deus para Josué também se aplicam a nós: “Não cesses de falar deste livro da lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Js 1.8). É a Palavra de Deus em forma escrita, a Bíblia, que é “inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2Tm 3.16).

Extraído do Manual de Teologia Sistemática Wayne Grudem.

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